domingo, 24 de maio de 2009

Anáguas a bordo.

Resolvi rever e escrever sobre "Império do Desejo" até pra eu mesmo entender porque gosto tanto desse filme. É de 81, direção do grande Carlos Reichenbach (do atual e ótimo "Falsa Loura"), e mostra a conclusão de um possível golpe do baú, onde a viúva herda uma casa de praia que o morto usava pra fazer bacanais. No caminho pra lá ela encontra um casal de vagabundos e os deixa como caseiros em sua ausência. Enfim, eu não vou resumir a história toda porque o filme é quase episodiado e gastaria muito tempo, mas é por aí.

Com o casal tomando conta da casa, dá pra imaginar que vira "uma putaria só". Porém, o filme vê aquilo com bons olhos, já que o único personagem que demonstra insatisfação é praticamente o caricato de um careta, vestindo roupa brega e etc, tudo pra passar um ar de hipocrisia, pois sabe-se que o mesmo persoangem participava dos bacanais do morto. A própria viúva parece não ligar e ser bem liberal quanto a fudelança do casal, mas no primeiro momento não esboça nenhuma reação que não pareça indiferença ou caridade.

Sendo esses os 4 personagens principais, somos apresentados a visitantes da propriedade, como duas jovens que acampam na praia. Nesse momento há uma cena memorável que puxa o tapete do feminismo extremista. Mas fica claro que o filme, apesar da sacanagem, não a coloca de forma machista como nas pornochanchadas (coisa que o filme não é, apesar de dialogar com). Há também uma dupla de matadores contratados para sapecar o casal vagabundo, os dois completamente zoados como personagens de desenho animado.Enfim, há também um personagem importantíssimo que é tipo um ex-militante político famoso que endoidou. Somos apresentados a ele numa cena quase aleatória em que, do nada, ele mostra o pau pra uma mulher na praia. Se veste com uma manta ao estilo profeta e fala em latim! Depois de uma referência à Chinesa do Godard dá pra perceber que o personagem é importante para desbancar um pouco o extremismo político (como no caso do feminismo.. talvez seja um filme apenas anti-extremista).Pois bem, o filme tem como nome gringo "Sensual Anarchy", ou seja, "Anarquia Sensual". Literalmente tenta-se fazer da casa um microcosmo de uma situação anárquica, e, pra isso, foi necessário confrontar diversas ideologias políticas (a direita e a esquerda) e sociais (o caso do rico, pobre, feminismo, etc..) e ver onde tudo isso ia dar. Nesse caso, acaba literalmente em sacanagem, com o casal andarilho intacto e tudo ao redor meio bagunçado. Ao mesmo tempo, o filme não termina com ar de vitória, não parece que a ideologia anárquica devia vencer, mas há um ar de continuidade e de indiferença que aponta, pelo menos pra mim, pra essa questão de que "o ser-humano é estômago e sexo".

Falei muita merda, desculpem.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Descongela, porra.



O legal da vanguarda é que ela não se reinventa.
Viva o comércio.

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Social, periférico, etc

Sem querer entrar nesse papo de "democratização" do cinema por conta das mídias digitais e etc, ao mesmo tempo aproveitando o fato do curtinha "Inclusão Digital?", no qual assino a câmera, ter sido selecionado pro Cine Cufa, darei alguns murros necessários por aqui.

Vivo numa região periférica e, por aqui, é comum essa coisa de oficina de vídeo, que tem como justificativa esses papos de estimular o jovem carente à produção de arte, a olhar o seu próprio meio de vida e bla bla. Apesar dos alunos terem a disposição boas ferramentas de trabalho, bom material didático e bons professores, o resultado dessas oficinas geralmente é o mesmo: um filme bobo com pegada social dentro e fora da tela. Quer dizer, o fato do filme ter sido feito na favela tal, por moradores da favela tal, é até mais importante que o tema desenvolvido ali.

Talvez seja esse o motivo de se separar esse tipo do resto da produção audiovisual, por exemplo do cinema universitário. Se um filme "periférico" (vou chamar assim) é ruim de doer, parece que a galera tem pena de falar, criticar. Óbvio que não estou exigindo uma cobrança rígida, mas esse papo de "é ruim, mas foi feito por crianças carentes" não cola. Tomo como exemplo positivo a experiência do Márcio e Pablo no CineGuandu, que colocavam a molecada de Japeri pra filmar com fotográfica digital e fazer disso coisas finas como "O Bêbado e o Lobisomem" e o hilário e sacana "Jogo da Velha". No entanto, o Cine Guandu além de oficina tinha também um cineclube, e esse é, pra mim, o diferencial da coisa.


Não adianta dizer que qualquer um pode filmar com um celular e editar no movie maker se esse "qualquer um" não gosta ou não tem contato com Cinema (assim mesmo em maiúsculo). A referência audiovisual dessa galera é a tv e tudo que ela envolve: os videoclipes, os filmes tipo o do cão que joga vôlei, etc. Portanto, uma forma de deixar de "socialisse" e começar a estimular uma boa produção, sem demagogia ou cafuné, é fazer com que esses caras conheçam cinema, assistam cinema, debatam cinema.

O "Inclusão Digital?" não é fruto de oficina, mas é um trabalho de apelo social, filmado numa comunidade de Nova Iguaçu, que tenta brincar com essa história de que lan house é inclusão digital. Pessoalmente, não gosto do resultado e, por exemplo, o fato dos atores terem saído de uma ong (ou algo assim) não me impede de falar que achei certos desempenhos ruins. Pois bem, ele foi selecionado agora pro Cine CUFA, festival da Central Única das Favelas, que rola no CCBB. Aí eu me pergunto: se o filme fosse realmente bom, teria chance em festivais normais?

Enfim...