sexta-feira, 1 de maio de 2009

Social, periférico, etc

Sem querer entrar nesse papo de "democratização" do cinema por conta das mídias digitais e etc, ao mesmo tempo aproveitando o fato do curtinha "Inclusão Digital?", no qual assino a câmera, ter sido selecionado pro Cine Cufa, darei alguns murros necessários por aqui.

Vivo numa região periférica e, por aqui, é comum essa coisa de oficina de vídeo, que tem como justificativa esses papos de estimular o jovem carente à produção de arte, a olhar o seu próprio meio de vida e bla bla. Apesar dos alunos terem a disposição boas ferramentas de trabalho, bom material didático e bons professores, o resultado dessas oficinas geralmente é o mesmo: um filme bobo com pegada social dentro e fora da tela. Quer dizer, o fato do filme ter sido feito na favela tal, por moradores da favela tal, é até mais importante que o tema desenvolvido ali.

Talvez seja esse o motivo de se separar esse tipo do resto da produção audiovisual, por exemplo do cinema universitário. Se um filme "periférico" (vou chamar assim) é ruim de doer, parece que a galera tem pena de falar, criticar. Óbvio que não estou exigindo uma cobrança rígida, mas esse papo de "é ruim, mas foi feito por crianças carentes" não cola. Tomo como exemplo positivo a experiência do Márcio e Pablo no CineGuandu, que colocavam a molecada de Japeri pra filmar com fotográfica digital e fazer disso coisas finas como "O Bêbado e o Lobisomem" e o hilário e sacana "Jogo da Velha". No entanto, o Cine Guandu além de oficina tinha também um cineclube, e esse é, pra mim, o diferencial da coisa.


Não adianta dizer que qualquer um pode filmar com um celular e editar no movie maker se esse "qualquer um" não gosta ou não tem contato com Cinema (assim mesmo em maiúsculo). A referência audiovisual dessa galera é a tv e tudo que ela envolve: os videoclipes, os filmes tipo o do cão que joga vôlei, etc. Portanto, uma forma de deixar de "socialisse" e começar a estimular uma boa produção, sem demagogia ou cafuné, é fazer com que esses caras conheçam cinema, assistam cinema, debatam cinema.

O "Inclusão Digital?" não é fruto de oficina, mas é um trabalho de apelo social, filmado numa comunidade de Nova Iguaçu, que tenta brincar com essa história de que lan house é inclusão digital. Pessoalmente, não gosto do resultado e, por exemplo, o fato dos atores terem saído de uma ong (ou algo assim) não me impede de falar que achei certos desempenhos ruins. Pois bem, ele foi selecionado agora pro Cine CUFA, festival da Central Única das Favelas, que rola no CCBB. Aí eu me pergunto: se o filme fosse realmente bom, teria chance em festivais normais?

Enfim...