terça-feira, 12 de agosto de 2008

Imagens não morrem, capitão.

Acabei de ver que o novo filme do Mojica levou um sacode na bilheteria do fim de semana -- não tá nem entre os 10 primeiros. Não cabe especular aqui os motivos disso, são bem extensos, mas uma coisa eu afirmo na lata: não sabem o que estão perdendo.

Depois de tanto levar na bunda, Zé Mojica encontrou em fãs a possibilidade de terminar a tão sonhada trilogia iniciada em 64 com "À Meia Noite Levarei Sua Alma". Após passar aperto e fazer uns ótimos pornôs , extremamente subestimados, Mojica deixou Zé do Caixão se misturar demais às caixas de sucrilhos e tornou-se caricatura de si próprio. Aquela típica atração de Superpop e derivados.

Agora ele chega aos cinemas finalmente registrando o contraste entre o velho e o novo Zé. Aliás, grande parte dos acontecimentos de "Encarnação do Demônio" evocam um tom de nostalgia, um tom literalmente preto-e-branco que assombra a modernidade à cores. Esse contraste também é refletido na forma que percebemos o personagem como algo ultrapassado e ridículo no contexto atual. Ou seja, o passado o persegue tanto na narrativa quanto fora dela, em nossos olhares.

Deixando isso de lado, o filme faz coleção de deslumbres visuais pros fãs de gore e sangueira em geral. O curioso é que, como sempre, Mojica abre mão de efeitos visuais e mostra a violência crua na tela. Porém, aqui em Encarnação, apesar de uma boca ser costurada de verdade, o "torturador" toma o cuidado de usar luvas. Por outro lado, há uma penca de efeitos falsos que simulam uma realidade física, porém dentro de um universo lúdico, o que torna essas situações mais convincentes e aceitáveis.

No elenco ainda vemos a musa Helena Ignez como uma velha feiticeira, Jece Valadão brilhante e o mestre Adriano Stuart, completamente genial em todo o filme (desde já é antológica a cena em que Adriano Stuart conversa com a cabeça de Jece Valadão). Quase como figurantes, estão lá Satã e Mario Lima, antigos amigos e figurinhas fáceis durante toda a carreira do cineasta. Há também um esquadrão de mulheres gostosas que, pra nossa sorte, aparecem nuas e cheias de sangue!!!

No meio de gritos, montagens rápidas, colagens de filmes antigos, sangue e perversão, encontramos um monte de homenagens à antigas obras do cineasta. Não é difícil perceber que aqueles assustadores olhos negros que são constantes em Encarnação já têm um certo histórico com o cineasta. A própria estrutura narrativa "episodiada" lembra um pouco os outros filmes da série. Obviamente, está carregado de modernidade e dinheiro para ousar e extrapolar - o que chega a assustar. Mas no caso de Encarnação não há exageros.

Por mais que seja esse o fim de uma bela e longa trilogia, Zé do Caixão está registrado como a figura que hoje é e como permanecerá na lembrança de muitos. "Imagens não morrem, capitão" - diz Zé em uma altura do filme. Em outro momento: "Convicções se provam em atos, não em palavras". Pois se o ato do cineasta é o filme, o resto é resto. Alguém me empresta uma borracha?